segunda-feira, 9 de abril de 2012

ESTACÃO ALTERNATIVA - III
"Existem pessoas capazes da mais rasteira malícia por propósitos que me escapam. Pessoas que usam cada grama de uma hipocrisia imensa para fazer desfilar uma série de (julgam eles) pequenos actos que deixam os destinatários sem reacção. Existem pessoas capazes de justificar, por uma soberba idiota e um senso de cobardia insustentável, cada atitude em detrimento de algo que não seja o próprio. Justificam-se por uma pretensa superioridade que tem como suporte apenas uma espécie de poder artificial, onde concorrem apenas as relações hierárquicas de sobrevivência ou a ameaça de violência. Justificam-se pela ilegitimidade de quem simplesmente acha que se for feito por si, está justificado, e ponto final.


A maldade, que a mim sempre me apareceu vestida como um egoísmo absurdamente potenciado, é real, e há quem o faça sem qualquer condicionamento, razão, ou justificação. Como a estupidez, parece justificar-se a si mesma na cegueira própria dos doidos que se corrompem a si mesmos à custa daquilo que espoliam a outrem.


Algumas pessoas simplesmente tiram sem autorização, concluem sem argumentos, usam sem cuidado, e destroem sem ser como consequência de uma ameaça."





ESTAÇÃO ALTERNATIVA II


A bondade dos gestos simples e/ou bons está auto-demonstrada. Não pela batidíssima metáfora da virtude ser a sua própria recompensa, mas porque ao comprovar-se a resistência que permite um impulso positivo, denuncia-se todo o mundo que, nesse instante, se calhar não interessa mesmo nada.

ESTAÇÃO ALTERNATIVA - I

Turn the world off for 3 mns...


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Eu desconfio dos histriónicos. Dos alardes, dos foguetes, das auto-promoções, da sede de holofote, da pretensa unanimidade da "porreirice". Desconfio daqueles que confundem sinceridade com auto-centrismo, das esponjas ao sol, que muito absorvem mas nada devolvem. Desconfio daqueles que têm "tantos amigos", são "tão populares", mas no limite, perdem-se nos seus ecos quando o brilho exterior enfraquece. Daqueles que, na merda, chafurdam quase sempre sozinhos...
Desconfio dos que choram a ausência alheia e enfeitam a própria a cores de desculpa. Do carácter unilateral dos gestos cheios de auto-intuitos. De quem nada faz sem o bloco de uma conta corrente desequilibrada. De quem jamais se questiona enquanto pergunta os motivos de todos a todos.
Desconfio dos sorrisos de quem diz nunca mentir, de quem apresenta imobilidade de ser com o passar do tempo, de quem não muda de opinião, de quem a serve consoante o destinatário, só para não perturbar a paz.
Desconfio de quem desculpa a inadmissibilidade do desconforto com a emoção necessária. De quem não cerra o dentes e confunde topete com sinceridade.
De quem perdeu o juízo com os outros, não sabendo que a piada só está na metáfora de alguma auto-loucura interna.
Desconfio de quem não tem a noção.
Nem de si, e por isso, nunca dos outros.


Talvez seja de facto necessário sermos capazes de equilibrar a nossa bicicleta, apurar a nossa dicção, suster o equilíbio emocional de todos os dias, das ocasiões em que o cerco parece fechar-se...
Mas as verdades também surgem assim, desta forma simples, belíssima, triste e verdadeira.
Não há como ladear o impacto do cinismo no estado corrente de coisas. Mas aquele é uma denúncia.
E como tal, faz questões sobre alternativas comportamentais, ou do estado de coisas.
Assim, os que tudo pediram, mas chegada a sua vez, pouco ou nada fazem, assumem apenas aquilo que era tristemente esperado, mas não se torna melhor por isso.
Há quem só saiba pedir.
Lixando as hipóteses os que deveriam e precisam de fazê-lo, mas preferem o silêncio doce próprio das surpresas da iniciativa, e do cuidado para além da educação.

Que triste maravilha esta faixa. Belíssima. :)

"I wish that I'd arrived a little sooner -
You really should have called we'd have come here right away
You tried to help yourself but you got it wrong

You've thrown yourself
Into the flames 'cause you're covered in cold
But these are your friends
They give out a nice warm glow

You've tried so hard to see for yourself
Your perspective is wrong
These are your friends
Let them come guide you on

Listen now - now's the time to listen
There're lessons to be learned
I've seen this before in my own life
You feel covered up, removed from the world around you
With all your senses dulled you'd do anything to feel
You tried to help yourself, but you got it wrong

You've thrown yourself
Into the flames 'cause you're covered in cold
But these are your friends
They give out a nice warm glow

What have you done? You're cutting your cord
You're floating in space
But these are your friends
They'll be your star-map home

Everybody needs some help sometimes..."





segunda-feira, 26 de março de 2012

Do Agnosticismo Pró-Ateísmo Agressivo
(Porque sou mais Dawkins ou Hitchens)

A propósito deste vídeo sugerido por um grande amigo, com quem já tive determinadas trocas de ideias acerca do tema, surge-me dizer algumas coisas.
A ideia de Botton é boa. Mais do que boa, assenta numa lógica de concórdia à qual não posso deixar de ser sensível, porque, de facto, há pontos de vista que assentam perfeitamente em parte da minha visão dessas realidades. A ideia dos cântigos de Natal e fenómenos que tais, para um agnóstico empedernido como eu, merece debate interno. E apesar de ser um duvidador metódico com um desgosto profundo pelas dogmáticas religiosas, existem determinados valores, talvez os puramente gregários, que nãome são estranhos. E sim, tenho uma visão ou experiência de transcendência quando olho para coisas inacreditáveis que a natureza faz, como o ornitorrinco, o diabo marinho ou os pinguins da Antártida, e, claro está, na capacidade que as pessoas têm de gostar umas das outras e o desejo materializável de criação.
Mas então porque é que sou mais chegado à noção trauliteira do agnosticismo/ateísmo? Por razões que em nada colocam grande parte das palavras de Botton em causa, mas que nalguns aspectos são divergente.

Primeiro, porque as próprias religiões organizadas são tudo menos gregárias. São clubes, com regras dogmáticas muito claras e que dispensam paternalismo e desdém por divergências claras com as suas interpretações metaforico-dogmáticas. Desde a orientação sexual à aceitação de credos e formatos alheios de vivência transcedental, a verdade é que as religiões maioritárias são, em tudo, sectárias. E os desgraçados que tentam de alguma forma um ecumenismo mais abrangente são barrados pela ala dura, por exemplo, do Vaticano ou de um Islão mais musculado, e infelizmente, a regressar em força.
No fundo, a religião é a base para estas deformações dogmáticas, e as suas, em meu ver, terríveis consequencias, e como tal, como Hitchens e Dawkins, se juntarmos isto a uma denegação teimosa da necessidade de uma realidade factual, o caldinho está todo entornado. A religião surge-me como uma espécie de exteriorização daquilo que deverá partir como impulso interno de valores humanos, gregários, e sim, até morais, embora este conceito deva ser manejado com o maior cuidado possível. É terreno fluido aquele que determina como e a quem devemos amar, e a religião nisso é magistral na dogmática sectária, seja pela misoginia milenar, pela homofobia, e depois pela risível tolerância da poligamia mormon, por exemplo.

Segundo, porque trazendo o discurso humanista mas racional e esclarecido para o debate surge apenas uma coisa possível - a pergunta. Como será, será que há algo, etc, etc, como produto de um juízo racional que, nem por isso deixar de ser humano ou sensível. E a dogmática dominante impede esse discurso, essa abertura a perguntas respondidas apenas com propostas de resposta, e não com cartilhas de repetição, como se a verdade fosse possível, e ainda por cima, incutida à marretada.

E terceiro, porque Botton fala na única coisa com a qual discordo frontalmente, e chega a ser-me ofensiva - o agnosticismo e o ateísmo não são religiões, nem formatos destas. É uma atitude gnoseológica, de dúvida metódica, de respeito e humildade pela natureza finita da nossa capacidade de conhecer, e que, no meu ramo, enfatiza as capacidades humanas para sentir, desejar, amar e sobretudo, criar. Interno, quase inatista, se bem que sujeito a processo educacional, claro, e não oriundo de dogmáticas que podem ser entendidas como instruções a seguir, e não vontades internas que se exteriorizam por força de um sistema de valores forte o suficiente para gerar uma conduta.

No fundo, não coloco em causa muito daquilo que ele diz, especialmente na ideia de que as posições se podem concertar, que as pontes são possíveis, e atenção, eu até acho muita piada a liturgia e mitos religiosos, porque na maior parte das vezes são histórias excelentes. Mas tenho muito pouco respeito por organizações baseadas em lógicas paternalistas, que se consideram mais próximas da verdade que as bruxas wiccan ou um dos meus "idolos" - Alan Moore - que adora a cobra Glychon e se apresenta como "mago". Porque é a subversão do raciocínio inclusivo que a religião deveria ter, mas cuja dogmática impede por definição, ao classificar de formas muito estreitas, o maniqueismo próprio de visão de pouco mundo.

Eu não sou parte do Ateísmo 2.0.
Sou um simples agnóstico que gosta de ouvir histórias, que se perguntar milhares de vezes acerca da natureza das coisas, que até acha que pode haver uma transcendência, mas que crê piamente que a maior das magias está na capacidade intrinseca de sermos bons, capazes de criar, e sensíveis a uma experiência talvez até espiritual, mas que, em meu ver, jamais poderá por o pensamento humano de lado.

Botton era o tipo que propôs construir um templo do ateísmo em plena Londres, o que por tudo o que disse acima, é uma subversão do meu entendimento. Mas, isso não quer dizer que não ache estas ideias boas, e que até não incorpore muitas delas no meu código de comportamento.
Simplesmente há algo nas histórias fantasiosas que me incomoda quando as querem impor como verdade e não como a única coisa que são - uma hipótese. Quanto muito, uma boa e criativa série de perguntas.

Mas gosto das ideias de Botton, e até concordo com ele mais do que pode aparentar.




quarta-feira, 7 de março de 2012

A Poesia do Entomólogo (Ou Botânico?)
"Point is, what's so wonderful is that every one of these flowers has a specific relationship with the insect that pollinates it. There's a certain orchid look exactly like a certain insect so the insect is drawn to this flower, its double, its soul mate, and wants nothing more than to make love to it. And after the insect flies off, spots another soul-mate flower and makes love to it, thus pollinating it. And neither the flower nor the insect will ever understand the significance of their lovemaking. I mean, how could they know that because of their little dance the world lives? But it does. By simply doing what they're designed to do, something large and magnificent happens. In this sense they show us how to live - how the only barometer you have is your heart. How, when you spot your flower, you can't let anything get in your way."
Charlie Kauffman "Adaptation"