segunda-feira, 4 de junho de 2012

Diz a vox populi que as surpresas nunca terminam. No que diz respeito a situações que envolvem pessoas capazes de pensamentos e emoções complexas, isso é uma verdade absoluta. Bem sei que há meia dúzia de iluminados que acham que a monitorização do comportamento humano acabou com a capacidade de surpreender desde os gregos, e que tudo é uma espécie de recauchutagem, mas não estou de acordo. Para pessoas brilhantes que conseguem entender uma equação acessível a apenas 70 pessoas no mundo, qualquer reacção humana é obviamente uma coisa pífia e diriam eles, desnecessária. Aliás, se não me falha a memória, um russo, julgo eu, vencedor de um prémio equiparado a Nobel da matemática, recusou o prémio e vivia numa espécie de vida de economia de subsistência, em quase reclusão.

Mas para o mundo mais em geral, as surpresas podem advir de um comportamento já imaginado por alguém, mas idiossincraticamente tornam-se únicos. Nenhuma situação é igual a outra, porque os protagonistas nunca são os mesmos, e as atitudes tem a tendência para se modificaram de forma única, como pregas na roupa que nunca se repetem. Mas há padrões. Definimos comportamentos. As coisas que nos alegram e dão prazer têm consistências. As que nos chateiam também. E no meio de tudo isto, a surpresa surge como uma espécie de amálgama eclética de elementos que constituem uma coisa qualificada como nunca vista. A surpresa, boa ou má, ou só mesmo incrível, surge como uma singularidade. Aliada à constância do elemento surpresa está a pergunta que nos leva a questionar o que fazer com ela. E quando nos referimos ao que fazer com ela, lá surge a qualificação que temos de fazer da mesma. Como é que deixamos que ela nos afecte, nos determine uma visão alternativa sobre um fenómeno, como nos molda, o que passamos a ser e pensar a partir dela. Obviamente que ela pode ser construtiva ou gregária de riqueza, ou destrutiva e denunciadora de falhas retorcidas na fibra do real. A incredulidade é assim um desejo de ordem mínima. Assenta num anseio por expectativas. É uma reacção de pele ao que se encara como uma lógica de passado, de conclusão, de percepção, nem sempre boa, das realidades. E é por isso que por vezes a surpresa não molda nada, não traz transformação, não reavalia as premissas. Consigo, porta apenas a consciência de coisas que nos agradaram ou feriram, relembrando os conceitos mas raramente, ou nunca, as pessoas de onde partiram. No fundo é um prazer ou mágoa diferida, não pelo mensageiro, mas pelo conforto ou medo/repúdio pela universalidade que a mensagem corre o risco de ter. As surpresas nunca terminam porque não sabemos nem bem o que somos, quanto mais antecipar os outros. Mas como disse acima, por vezes trazem a sombra de conceitos, e coisas que, não entendendo completamente, gostaríamos ainda assim que surgissem mais claras se ao menos fossem traduzidas com verdade nos seus opostos. A tempo e de raiz, claro está... Perante males irremediáveis, o resto pouco ou nada interessa. Os crocodilos têm demasiados dentes...


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